Seminário Hannah Holborn Gray vulgo Como começar a pesquisar:

Publicado por Nath em

Pré-seminário…

No começo dessa semana a minha faculdade promoveu um seminário de pesquisa pra todos os alunos que ganharam a Bolsa de Pesquisa do Hannah Holborn.

Detalhe, eu entrei de férias da faculdade – vide entreguei minha última redação – na sexta passada (12/5). No domingo (14/5) eu tive que me mudar do meu quarto pra um quarto em um dormitório diferente, num calor de 30ºC+, eu de pijama de manga comprida E pra completar ainda tive minhas toalhas (e basicamente tudo que eu precisava pra ficar limpa/cheirosa) furtadas. Então no domingo à noite, pós banho com amostra grátis de condicionador e jantar com meu boy, a última coisa que eu queria fazer era ler aqueles três textos pro primeiro dia de seminário no dia seguinte. Mas graças a um milagre divino e horas de procrastinação, o ser que vos fala começou a ler (li um texto, mas abafa o caso).

Enfim o seminário durou 3 dias, tivemos 3 professores dando aulas, duas doutorandas como nossas mentoras, uma conversa com as bibliotecárias da faculdade e uma aula de meditação. No total somos 10 bolsistas, mas só 6, contando com moi, puderam ir.

Mas porque que eu estou falando isso tudo? Bom pra dividir um pouquinho do que aprendi durante esses 3 dias de seminário – muito do que eu tinha aprendido na marra aqui, mas com um nome legal.

Seis Lições:

1. Não escreva rebuscado:

Olha, claramente a comunidade acadêmica tem certas expectativas sobre como você escreve. Toda ciência tem o seu próprio linguajar, seus jargões e é super ok usá-los. O problema é quando a pessoa quer mostrar que é o sinistro numa área, enchendo o texto com palavras complicadas e ambíguas de forma que o texto fique ininteligível. Cê já leu aquele texto e ficou meio assim?

Eu e alguns textos de Teoria Politica

2. Tem que escrever seu TCC? Um trabalho de mais de 10 páginas e tá super perdido?

Tente pensar em todo texto que você escreve como uma conversa. Parafraseando um dos meus textos E POR FAVOR sendo hipotético de que você é meu oposto (=sociável): você chega num bar e tem diversas conversas rolando soltas. Você senta, escuta um pouco de uma conversa aqui, de uma conversa acolá, até que se sente confortável pra emitir uma opinião. Daí você junta sua coragem e solta o verbo. Uma pessoa ali te responde, outra. Você responde alguém. Até o momento que você sai de cena e a conversa continua.

Nesse sentido pensa, em qual conversa eu me interesso? O que e posso acrescentar a essa conversa? O que disseram antes de mim? Sabe? Igual as pessoas deveriam fazer em comentários no facebook mas ninguém faz. Aliás segue esse conselho pra vida.

3. Comece pequeno, mas comece escrevendo:

Gente de grão em grão a galinha enche o papo. Escrever – principalmente se for um projeto de longa duração e/ou sem supervisão – é complicado. Uma das propostas do seminário foi:

  • Escreva antes de ler;
  • Tente escrever no mesmo horário todos os dias; (cada pessoa tem um local/horário que funciona melhor pra si)
  • Pause;
  • Só então leia;
  • Prepare as coisas pro dia seguinte;

Mas como a gente escreve antes de ler, criatura? Bom pro primeiro dia você pode fazer uma lista de tudo que você acha que precisa saber pra responder determinada pergunta. Você pode criar um inventário de todas as pessoas que já falaram sobre o assunto. Escrever aqui se refere a coisas que não exigem raciocínio pesado… Pros próximos dias você pode escrever baseado nas suas notas de leitura dos dias anteriores.

Dá certo? Olha, eu vou tentar esse verão e depois conto pra vocês…

4. Se houver um evento na faculdade com comida, vá:

Spoiler sou esfomeada. E de graça eu recebo até injeção na testa. Mas de uma forma geral,  eventos com comida tendem a ser um pouco mais descontraídos – ao menos na minha faculdade. Nesse contexto a gente conhece – ou até mesmo redescobre – pessoas. E pessoas são MUITO importantes no seu processo de pesquisa. Em especial leitores em potencial (peer-reviewers), que podem te dar opiniões sinceras sobre o seu texto (em especial sobre o ponto 1). Ou seja, aceite coisas de graça e ache um peer-reviewer pra você!

5. Errar é Recomendado:

Um dos problemas com pesquisas acadêmicas hoje é o medo de estar errado. Esse problema é tão grande algumas das perguntas feitas em pesquisas são justamente perguntas nas quais é impossível de se estar errado. (Por exemplo, otimização de pesquisas que já foram desenvolvidas, 20x aplicação de um modelo que todo mundo sabe que funciona a um caso específico). É claro que toda pesquisa tem o seu valor, mas lembra do fator conversa? Vale a pena repetir aquilo que já foi dito com outras palavras, com outros exemplos? Errar é humano e avança descobertas…

6. Cuidado com suas toalhas/coisas pra tomar banho:

A Disney tem princesa do gelo, da neve, mas infelizmente não criaram a princesa do suor. Se criarem, por favor me chamem pra dublar porque tenho experiência.

 Lista dos textos lidos (Em Inglês):

Burke (1941) – Conversation

Wilkinson – Scholarship as a Conversation

Peter Stallybrass (2007) – Against Thinking

C. Wright Mills – On Intellectual Craftsmanship (Parte do livro The Sociological Imagination)

Andrew Abbot – Chapter Seven: Ideas and Puzzles (Parte do livro Methods of Discovery)

Howard S. Becker – Tricks of the Trade

Anne Lamott – Bird by Bird: Some Instructions on Writing and Life

 


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